Na boca do caixa

Extrato diário da vida de um bancário, direto da Faixa de Gaza.

14.8.06

Crises de identidade

Hoje começou cedo. Mal o banco tinha aberto as portas um sujeito chegou todo irritadinho, perguntando porque as máquinas tinham somente cédulas de 10 e 20 reais pois a majestade queria cédulas de 50. Como o pessoal não deu nem tchuns para ele, resolveu então chegar até o caixa para sacar o seu rico dinheirinho.
Minha colega então pediu a identidade do cidadão para se certificar que ele era, de fato, titular da conta. Aí ele começou a bater o pezinho e perguntou: "e se eu não estiver com minha identidade?" Minha colega retrucou: "saca nas máquinas, pois aqui no caixa somente pode sacar o cliente identificado, são normas do banco".
Eu realmente não entendo isto: eu não vou nem na padaria sem documentos, como esse pessoal anda sem lenço nem documento por aí querendo fazer movimentação bancária? Gente, no banco só falta norma para usar o banheiro e, se ela existisse, seria assim: "após fazer tal coisa, pegue 20cm de papel higiênico, dobre duas vezes e faça assim-assim-assado..." Tudo é normatizado e o que for feito fora das normas fica por conta e risco de quem fez.
Dias atrás foi comigo. Uma tia chegou com o cartão em punho e pediu: "quero cinco mil". "Seu documento, por favor". "Para quê? Que #&*$@ de banco que exige isto agora?" Fui inflexível, sem documento, nada feito (afinal cinco paus iriam doer no meu contracheque). A tia saiu bufando e retornou mais tarde com identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho e conta de luz, e-s-p-u-m-a-n-d-o de raiva. Minha sorte que nesta hora eu estava enchendo a barriguinha no meu horário de almoço... É, nem sempre o meu pão cai com a manteiga virada para baixo.

7.8.06

Cozinhando na potência máxima

Existe um boato que circula na internet de que nos EUA uma velhinha teria dado um banho no seu gato e, com medo que ele se resfriasse, teria colocado o bichano no microondas para secar... Não sei se a história é verdadeira, mas me solidarizo com o pobre gatinho.
Hoje, segunda-feira, quinto dia útil, último dia para pagamento de aposentadorias, último dia para pagamento de salários na iniciativa privada... foi terrível. Cara, o brabo nem é trabalhar como um doido durante todo o horário de funcionamento do banco, o brabo é que as pessoas da fila, quando estão aguardando há mais de 30 minutos, ficam te olhando com ódio. A sensação para quem está lá na frente, vendo dezenas de pessoas olhando iradas para o caixa, é horrível. Parece que você está sendo cozinhado com o olhar: dezenas de pares de microondas na potência máxima bem ali na sua frente.
A única tática para driblar o constrangimento é a de atender cada pessoa como se ela fosse a única ali na sua frente, afinal, não é nossa culpa que existem dias em que a maioria das pessoas preferem ir ao banco, muito menos o fato de haverem guichês vazios ao nosso lado.

Histórias de amor no banco

Sexta feira passada ocorreu um fato inusitado (mais um): uma moça tentou passar na porta e não teve jeito, havia algum metal que barrava a entrada. Muitos gritos, insultos e o diabo. O namorado passou incólume na porta, pegou seu celular e se dirigiu ao caixa.
A moça começou a armar o barraco: Volta aqui! Se eu não puder entrar nesta #$@*% tu tens que sair! O cara se dirigiu ao caixa, imperturbável. Então veio a ameaça: Se ficares aí tu vais voltar à pé para casa! - disse ela empunhando o capacete da moto e as chaves na mão.
O cidadão pagou o que queria e, na saída, detonou: eu não agüento mais os teus barracos! Tchau prá ti - disse ele empurrando o capacete contra o peito da moça.
Foi a primeira vez que vi a porta giratória separando corações...