Na boca do caixa

Extrato diário da vida de um bancário, direto da Faixa de Gaza.

22.2.07

Depois das cinzas de carnaval

Voltar a trabalhar após alguns dias de descanso tornam a jornada bem mais light, parece bem mais tranquilo do que na véspera da saída de férias. Só o que mudou na agência (e pelo que colhi de outras agências também) foi o humor da tropa. É que no lugar do complemento de PLR (participação nos lucros e resultados) que seria para todos e que não veio, foi distribuído um valor referente à renda variável (ganho de produtividade) apenas para o setor de negócios das agências. Na minha, por exemplo, somente 3 colegas receberam. Aí os outros ficaram se perguntando se o seu trabalho representava alguma coisa para o resultado do banco... Eu nunca tinha visto colegas com 15, 20 anos de banco (e que não eram da área comercial) tão desmotivados e revoltados com a discriminação que sofreram.

7.2.07

Me caiu os butiás do bolso

No ano passado, diante de todo o arrocho salarial, o povo resolveu fazer uma mobilização na campanha salarial como há muito tempo não se via. Agências paradas, braços cruzados, passeatas e o escambau. Depois de muita peleia veio o acordo, no qual havia uma cláusula que, em suma, garantia R$ 1 mil a cada bancário caso a rentabilidade atingisse 15% sobre o ano anterior. Como no terceiro trimestre do ano passado já havíamos atingido 15,6%, era só manter o ritmo e partir para o abraço.
Pois hoje foi divulgado o resultado do ano e inacreditavelmente foi apurado apenas 2,8%. Uma mágica contábil evaporou a rentabilidade do Banco justamente quando estão querendo passar ele nos cobres...
O pior é que o sindicato calculou que deveremos receber a bagatela de R$ 86,65 que mal dá para comprar um Rambone. Que vida f... esta de bancário.

5.2.07

Está logo ali na frente...

Fim de feriadão, segunda-feira, 2º e 3º dias úteis acumulados das aposentadorias e, para ajudar, pane total na comunicação inter-agências. Ninguém conseguia fazer nada ou levava muito tempo para conseguir. Tempo que não tínhamos para desperdiçar. Durante minhas 497 autenticações de hoje cheguei a me aborrecer com esse quadro de horrores mas então lembrei de uma professora que tive há uns dois anos atrás.
Ela disse que o que nos move, mesmo diante da adversidade, é a perspectiva de vida. Quando temos perspectiva sabemos para onde ir e temos ânimo de continuar. Então me lembrei que dentro de uma semana estarei em merecidas e aguardadas férias. É verdade que serão minguados dez dias, mas ainda sim serão degustados minuto-a-minuto. Chega, sexta-feira, chega logo...

1.2.07

Assim caminha a humanidade

Era quase meio-dia, tudo fluindo apesar do movimento, quando entraram duas meninas com uns 13-15 anos de idade, conversando alto. Apesar daquele blá-blá-blá contínuo, continuei com a minha cabecinha abaixada trabalhando. Eis que elas foram ao caixa do meu colega que as atendeu brevemente e, ao vê-las sair, perguntou boquiaberto: tu ouviu o que essas gurias estavam falando?
Respondi: não, porque?
Olha só o diálogo: menina 1: o meu macho me pegou ontem e fez assim-assim-assado, depois me pegou por trás e fez de tal e tal forma, etc.
menina 2: o meu homem me pegou na semana passada e fizemos assim...
Olhamos um para a cara do outro, quando chegou um terceiro que vinha da rua e lascou: vocês nem sabem o que aquelas gurias estavam conversando... O que elas disseram? perguntamos em coro.
A festa ontem estava ruim porque só tinha cueca (sic). Não tinha nenhuma menina para a gente meter a mão...

Cara, onde este mundo vai parar?

Um ambiente nada romântico

Já falei das loucuras que ocorrem nos últimos dias do mês? Pois hoje tivemos ainda a sorte de ter um apagão em quase toda a "Faixa de Gaza". Do Obirici à Alvorada entre 10:45 e 12:20 ficamos sem luz e como hoje em dia tudo é informatizado, ficamos à mercê das baterias do no-break que apitavam anunciando o fim-do-mundo. Para poupar bateria desliga-se tudo o que não é essencial no funcionamento da agência, mantendo somente os caixas autenticando, antes que o computador dê o seu último suspiro.
Para ajudar houve dois agravantes: primeiro que a principal entrada de ar da agência é por meio dos aparelhos de ar condicionado (que se desligaram), segundo é que a porta giratória começou a enlouquecer e apitar sem parar. Depois do meio-dia a neurose era autenticar correndo, suando e com um zumbido estridente nos ouvidos...
Hoje deu para ver o quando a tecnologia nos deixou dependentes da eletricidade e o quanto a falta dela afeta o humor das pessoas.
Ainda pela manhã um senhor negro com uns 50 anos entrou indignado porque teve que tirar o cinto das calças para passar na porta. Depois que ele bateu boca com o segurança, tentei aliviar a tensão explicando que em função da região ser muito violenta a porta precisava ser sensível e que isto não tinha nada a ver com discriminação racial, etc. Ele olhou para mim e disse: eu conheço a região e entendo isto. Mas aquele guardinha não gosta de negros e eu sei porque: deve ter um negão agarrando a mulher dele!