Nesta época do ano, quando os espíritos se elevam em direção aos shopping centers, os bancos são assolados por hordas de consumidores que não vêem a hora de torrar o 13º em alguma bugiganga ou quitar suas dívidas o quanto antes.
Na
segunda-feira recebi um punhado de cartões de natal do banco com a instrução de entregá-los aos clientes da agência pois não haveriam cartões suficientes para entregar a todos. Meio-dia, agência vazia, atendia eu um correntista quando, ao final, desejei feliz natal e entreguei um dos cartões que possuía. Atrás dele chegou um senhor idoso que eu não conhecia, pagou um imposto qualquer com dinheiro e, depois de eu lhe entregar o troco, ficou postado diante do guichê me encarando. Após alguns segundos, lascou:
"Eu não vou ganhar um cartão de natal? Estou sendo discriminado? O banco só entrega cartões se o cara for branco, negro ou amarelo, blá, blá, blá..." Parecia minha filha de 4 anos reclamando que não ganhou uma porcaria qualquer. Aí tive que interromper a ladaínha:
"Olha um cartão para o senhor também, um feliz natal para o senhor e sua família, tenha um bom dia..."Terça-feira, 10:02, uma mulher jovem que era a 2ª da fila tranca na porta por causa da bolsa e faz um escândalo com "E" maiúsculo. A primeira frase dela foi:
"Quem é o gerente dessa merda que eu quero reclamar!!!" O vigia falou alguma coisa e ela mandou ver:
"Vai tomar no cú, seu filho-da-puta!!!" e continuou um discurso de alto nível por um bom tempo...
Na
quarta um sujeito chegou falando grosso no meu caixa, querendo que recebesse uma conta telefônica sem a fatura impressa, o que as normas não permitem mas, como o essencial é a transmissão correta dos dados, poderia autenticar qualquer papel para quebrar um galho pro cara. Mas aí já eram 15h passadas de um dia 20 de dezembro, quando muita gente tinha recebido o 13º salário e o meu saco, que não é o do papai-noel, já estava explodindo. Aí, vomitei no cara que eu não iria contrariar as normas e ele que pagasse a conta numa lotérica, num posto bancário, pela internet ou seja lá onde ele quisesse... e ele saiu bufando.
Na
quinta foi a vez de uma senhora que na semana anterior eu havia atendido e que estava completamente atrapalhada pois seu marido estava mal no hospital. Nesta quinta, quando perguntamos pela saúde do cara, ela, muito emocionada mas aparentemente conformada, disse que ele havia tido um AVC (Acidente Vascular Cerebral, vulgo derrame) e dois infartos e que possivelmente não passaria daquela noite. Assim que ela saiu, olhei para meu colega e não perdoei:
"esse daí vai passar o natal com Jesus... "