Na boca do caixa

Extrato diário da vida de um bancário, direto da Faixa de Gaza.

17.10.06

O céu de cada um

Quando se atende pessoas em grande quantidade, o desgaste geralmente é grande. Cada pessoa ali na sua frente é um universo de sentimentos próprios que nem sempre compreendemos. Muitas vezes a criatura já chega na sua frente tendo passado por situações-limite e você, não sabendo disso, acaba não entendendo suas reações.
Ontem um senhor com mais de setenta anos chegou no caixa ao lado e estava um tanto confuso, com dificuldade de lembrar senhas e tudo o mais. Seria uma situação irritante dentro de uma rotina de atendimento diário mas, minha colega começou a conversar com o cliente e ele explicou que estava há 48 horas sem dormir depois de sepultar sua única irmã.
Hoje foi comigo. Um cliente que trabalha com banca de revistas e sempre chegava sorridente, brincando com todo mundo, estava diferente. Depois de encaminhar seu depósito e trocarmos umas duas ou três palavras, notei que aquele jovem de quase dois metros de altura fazia força para conter as lágrimas que, em pouco tempo, jorravam-lhe em profusão. Perguntei a ele o que se passava mas ele se limitou a dizer que eram problemas familiares. Soube depois que problemas financeiros, com fornecedores inclusive, tornaram-lhe o céu cinzento.