Na boca do caixa

Extrato diário da vida de um bancário, direto da Faixa de Gaza.

25.5.06

O bêbado era eu

Numa tarde absolutamente tranqüila, agência vazia, estava eu com minha cabecinha abaixada fazendo alguma coisa quando aquela senhora surgiu na minha frente. Aparentando uns 50-60 anos, óculos escuros, perguntou se poderia pagar a conta de luz. Aceitei, informei o valor enquanto ela procurava vagarosamente alguma coisa em sua bolsa. Da sua niqueleira, começou a puxar as cédulas amarrotadas, numa demonstração de total descoordenação motora ou visual. Pensei cá com meus botões: a esta hora da tarde e esta senhora já está de pileque... imagina quando chegar a noite.
Ela começou a reclamar do garçom da lancheria onde estava que teria lhe logrado no troco, um assunto clássico de bebum, conjecturava eu. Finalmente ela me entregou aquela massaroca de dinheiro, contei, dei o troco, autentiquei, tudo ok. Me despedi dela e então vi que a minha percepção é que estava de pileque: ao se virar para ir embora, aquela senhora empunhou uma bengalinha própria de pessoas com deficiência visual e, enquanto ela lentamente se dirigia à porta, o babaca aqui procurava um buraco para se enterrar diante de tanta vergonha...